04/02/2025

𝕴𝖓𝖉𝖚́𝖘𝖙𝖗𝖎𝖆 𝖉𝖆 𝖒𝖔𝖉𝖆, 𝖎𝖒𝖕𝖆𝖈𝖙𝖔 𝖆𝖒𝖇𝖎𝖊𝖓𝖙𝖆𝖑 𝖊 𝖔 𝖈𝖔𝖓𝖘𝖚𝖒𝖎𝖘𝖒𝖔 𝖉𝖊𝖘𝖊𝖓𝖋𝖗𝖊𝖆𝖉𝖔


Olá, Bats. Quanto tempo, não é mesmo? 
Como sempre ando sumida, mas voltando uma vez por ano... kkkk
Tenho me dedicado bastante a estudar sobre moda (ainda mais que comecei a costurar minhas próprias peças. 
É através da moda que podemos nos expressar, contar histórias através dos séculos (sou completamente apaixonada pela era romancista e vitoriana). Lembrando que moda é diferente de modismo!
Porém, nós da subcultura gótica temos um papel muito importante dentro da comunidade para informar os babybats sobre um dos aspectos mais importantes e discutidos (de forma rasa - na minha opinião), sobre o consumismo e o impacto que ele tem no nosso meio. 
Decidi trazer de forma ampla, detalhada e com dados reais sobre isso e quais atitudes devemos tomar, como parte de uma subcultura que prega contra o consumismo e sobre o meio ambiente. São problemas reais e atualmente tratados de forma muito banal. 
Clique no Drácula para mergulhar nesse debate e estar por dentro do assunto -->
                   

Essa indústria é responsável por cerca de 10% das emissões de gás carbônico, ficando atrás somente do setor de petróleo (mas aqui o petróleo também domina e já vou te contar o motivo). Quando falamos sobre os impactos vindos deste setor, estamos falando muito mais do que exploração ambiental por matéria prima, falamos sobre consumo de água, consumo de energia, emissão de carbono, e principalmente, a pauta mais importante é o descarte de resíduos. Antes de começar a adentrar em alguns pontos, vamos começar explicando sobre Fast Fashion que vai adentrar em toda a ponta do iceberg. 

Fast Fashion e a globalização da moda:


Fast Fashion, nada mais é do que a indústria da moda ou também conhecida como "moda rápida". Essas peças são fabricadas em maior quantidade, com menor tempo/ custo possível e vão para o mercado com preços mais baratos para que em pouco tempo, sejam completamente descartadas. Comprar roupas com frequência é muito enraizado na nossa sociedade. Aqui no Brasil, estima-se que uma pessoa compre uma peça de roupa por mês, no mínimo, apenas pelo ato de ter uma peça de roupa nova ou trocar uma antiga. O Brasil é o 9º entre os países que mais gastam em termos de consumo. A expectativa, aliás, é que o país feche o ano com US$ 1,3 trilhão gastos, além de poder chegar a US$ 2,08 trilhões em 2034.


Adentrando na história, nem sempre as coisas foram assim, até o século XVIII (século 18, 1701 - 1800), as pessoas produziam suas próprias roupas ou compravam roupa de segunda mão, assim, as pessoas daquela época faziam ajustes ou remendos para usá-las o máximo de tempo possível. Nesse período, as peças eram projetadas para durarem mais e as pessoas mais ricas, usavam tecidos de maior qualidade e mais duráveis, para passar suas peças de roupas para próximas gerações como uma forma de herança. Nota-se que antes, a valorização era a qualidade e durabilidade. Hoje, temos a valorização da quantidade, infelizmente. Mas como tivemos um retrocesso nesse sentido? 


Tudo mudou com a chegada da revolução industrial, que foi o período em que deu início as produções de larga escala. Nessa época, as técnicas de produção têxtil começaram a mudar e avançar tanto que cada vez mais toneladas de algodão começaram a ser produzidas (aqui já começamos um impacto ambiental, pois precisa-se desmatar uma determinada área para produzir em grande escala assim). E com isso, tivemos uma produção de roupa em larga escala, permitindo que muitas pessoas tivessem acesso a vários tipos diferentes de roupas (já que com isso, os preços caíram muito). Os escravos eram responsáveis por cultivar a plantação de algodão nos países em que tinham grande plantio e isso fez com que os donos de escravos (brancos) e donos dessas produções enriquecessem absurdamente. Além disso, a mão de obra escrava era completamente desvalorizada, fazendo com que esses trabalhadores vivessem em condições péssimas e recebessem quase nada pelo seu trabalho, em muitos casos, essas pessoas chegavam a morrer de exaustão.  


Boa parte dessas peças de roupa que a gente compra em lojas de departamentos e fast fashion vêm de um lugar chamado Bangladesh - região sul da Ásia. Onde acontece a exploração do trabalho infantil, insalubridade e cargas abusivas de trabalho. A maioria dessas trabalhadoras são mulheres (como vocês podem ver na imagem) e ganham centavos por dia, sendo insuficiente até mesmo para comprar comida. Nesse local, existem muitas fábricas clandestinas que não possuem condições mínimas de trabalho e análogos a escravidão. Além disso, existe uma grande quantidade de dióxido de carbono emitido pela fabricação das roupas. A grande parte do algodão usado nas roupas vem em grande parte da Índia, China, Estados Unidos e Brasil (que é 4º maior produtor de algodão do planeta). A emissão do gás carbônico não está somente na produção das peças, mas também no transporte do material e da transição da peça pronta para ser distribuída nos países de venda. 

Impactos ambientais do consumismo desenfreado:


As fibras naturais (principalmente, algodão) são biodegradáveis, ou seja, as peças que quando vão parar no lixo, vai se decompor, pois faz parte da natureza. Porém, nem tudo são flores. Para produzir apenas um par de calça jeans, são necessários cerca de 5 mil litros de água desde o plantio do algodão até o final da produção da peça. Para produzir uma camiseta, é necessário cerca de 2 kgs de combustíveis fósseis e cerca de 3 mil litros de água. A produção de algodão, embora utilize pouco mais de 2% da área total destinada à agricultura, é responsável por aproximadamente 24% do consumo de inseticidas e 11% dos pesticidas utilizados na agricultura.

A produção de lã gera impactos ambientais à saúde devido ao uso de inseticidas sintéticos, que contaminam o solo, a água e afetam a fauna. Além disso, o processo emite quantidades consideráveis de gás metano, proveniente das ovelhas, bem como detergentes e graxa. O consumo de energia nessa produção é elevado, superando até mesmo o das fibras sintéticas, principalmente pelo tempo prolongado de secagem, a necessidade de passar a ferro e as perdas durante o processo. Outro fator relevante é o alto consumo de água, com aproximadamente 150 litros sendo utilizados para produzir cada quilo de lã.

No processo de produção do liocel, é empregado o N-metil morfolina N-óxido, um solvente biodegradável considerado ecologicamente sustentável por ser não tóxico e por poder ser reutilizado no processo em até 99,5%. Esse tipo de produção consome uma quantidade significativa de energia e o material resultante apresenta baixa durabilidade. Utiliza o línter de algodão como matéria-prima, ele herda os impactos ambientais associados ao cultivo do algodão, incluindo o alto consumo de água, que chega a 640 litros por quilo produzido. Embora seja proveniente de uma fonte renovável, a reciclagem do liocel é desafiadora devido ao mesmo problema enfrentado pela fibra de algodão: o comprimento reduzido das fibras.

A produção de poliamida gera subprodutos como água, ácido clorídrico e óxido nitroso, um gás que contribui para o efeito estufa. Os resíduos provenientes da fiação são reaproveitados na fabricação de plástico. Embora a fibra de poliamida seja reciclável e apresente alta durabilidade, sua produção demanda um consumo significativo de recursos, utilizando cerca de 700 litros de água para cada quilo do material produzido.

Já o poliéster por ser plástico, demora décadas para se decompor e causa bastante impactos ambientais, principalmente, no seu descarte e com o consumismo desenfreado. É necessário cerca de 70 milhões de barris de petróleo para atender a demanda de produção de poliéster anual no mundo, além disso, a produção do poliéster demanda o consumo de muita água. Sem contar que a maioria dos tipos de poliésteres existentes, não são biodegradáveis. Aquela peça inofensiva do seu guarda-roupa comprada de sites como a shein, pode levar até 200 anos para se decompor na natureza. Como se não bastasse isso, um estudo recente mostrou que existe uma grande contaminação dos oceanos por pequenas partículas plásticas que se desprendem das fibras feitas com esse material. Em uma pequena simples lavagem, uma única peça de roupa pode soltar até 1900 microfibras de plástico que vão para as tubulações de esgoto e consequentemente, para os oceanos. Os animais acabam se alimentando dessas partículas que são absorvidas e passam de um animal para o outro ao longo da cadeia alimentar. Já imaginou o tamanho do impacto somente aqui? Mas não para por aí, acaba intoxicando os seres humanos também que consomem os peixes e animais marinhos que absorveram essas substâncias, tá bom para você? Ah e isso aqui é somente sobre o poliéster, existem diversos outros tipos de fibras sintéticas, usadas na produção de roupas de lojas de departamentos, consumidas em grandes quantidades e que causam um impacto gigantesco no meio ambiente. 

Em 2015, a indústria Fast Fashion emitiu cerca de 1.2 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera, inclusive, essa quantidade é maior que a produção de gás carbônico pelos setores de aviação e navegação juntos. Esses gases aumentam o efeito estufa gerando o aquecimento global.

A viscose é uma fibra artificial feita a partir da celulose produzida pelas árvores e sua produção exige cerca de 70 milhões de árvore todos os anos, além da quantidade de pesticidas usadas nas plantações que são extremamente tóxicos para o meio ambiente.


Existe um lugar no deserto do Atacama no Chile, que é literalmente um deposito de roupas descartáveis do mundo inteiro e aumentam cerca de 59 mil toneladas por ano e no subsolo existem roupas enterradas, pois existem peças com componentes tão tóxicos que são enterradas com o intuito de evitar incêndios tóxicos dos produtos químicos vindos dos tecidos sintéticos. Ou seja, essas peças estão também depositando componentes tóxicos nos lençóis freáticos, além de demorar no mínimo 200 anos para se decompor. 

Você deve estar se perguntando: "Tá, mas porque essas roupas não são recicladas?". Simplesmente, a reciclagem dessas roupas não dá muito certo já que a fibra dessas peças geralmente é feita de algodão com plástico/poliéster ou alguma outra fibra sintética - e a fibra de tecido que é plástico dá um trabalho imenso, gasto de energia, recursos naturais e muito dinheiro para conseguir realizar esse processo. Também sabemos que a maioria dessas empresas não estão se importando com reciclagem, impacto ambiental e muito menos nas condições trabalhistas das pessoas por traz dessas peças. É mais barato para eles produzir novas roupas, já que a população está acostumada em apenas consumir e descartar. 

Sabendo de tudo isso, é importante começar a pensar não somente onde você compra - como vejo a maioria dos góticos quando debate sobre consumismo, falam somente sobre comprar ou não na Shein - mas também pensar em como a peça que você usa no seu dia a dia impacta no meio ambiente e o que você pode mudar para tentar ter um guarda-roupa mais sustentável:

Origem dos tecidos: Existem diversas fibras de tecidos que tem seus determinados impactos. 


- Natural: algodão, linho, sisal, lã, seda, couro;


- Artificial: viscose, viscose de bambu, liocel/tencel e modal;


- Sintética: poliamida/náilon e o poliéster e acrílico;

Trama (como o fio foi estruturado no tecido)

- Plano: um do lado do outro bem esticados (não consegue ser esticado e para isso precisa do elastano);


- Malha: o fio é mais cruzado, pois quando esticar o fio, ele vai esticar sem precisar ter elastano na fibra;



Acabamento (tratamento "premium" do tecido):

- Permeabilidade do tecido;

- Toque mais macio;

- Anti-manchas;

- Aparência do tecido;

- Durabilidade;

Principais tipos de tecido e características:

- Naturais: Fibras vindas da natureza de matéria-prima vegetal (algodão, linho e sizal) e animal (lã, seda e couro).

Pontos positivos: São tecidos muito respiráveis, secam muito rápido, trazem um conforto maior e possuem alta durabilidade.

Pontos negativos: Preço destes tecidos são bem mais elevados (qualidade custa caro) e amassam muito, algodão e linho mesmo acabados de passar, eles amassam muito fácil.

Algodão: é macio, possui um conforto maior, é um tecido respirável (usável no calor) e ideal para o dia a dia;

LinhoÉ o tecido mais antigo do mundo usado desde a pré-história, foi um dos primeiros tecidos feitos. Extremamente sofisticado e elegante, também é barato. 

Lã: tecido super quente, grosso para o inverno;

Seda: Feita pelo bicho da seda, acaba sendo um tecido não vegano, mas é um tecido muito caro (uma boa opção para substituir é o cetim);

Couro: Não é indicado o couro PU (famoso couro de rato), pois é plástico puro. Os melhores e mais recomendados são couros veganos (couro de cogumelo e couro de cacto);

- Sintéticos e artificiais: Produzidas a partir de petróleo, plástico. O plástico é um isolante térmico, ou seja, a respirabilidade não é boa, além de não ser sustentável. É produzido com muitos aditivos e produtos químicos para produzir esse tipo de tecido.

Pontos positivos: Amassam pouco ou não amassam, secam rápido e são mais baratos.

Pontos negativos: São tecidos menos sustentáveis e causam um impacto grande na natureza, tanto no seu consumo quanto no seu descarte. São tecidos geralmente quentes e que não são transpiráveis (podendo trazer até um odorzinho maior no dia a dia) e possuem cheiro forte de produto químico em sua maioria, são mais fáceis de manchar (em caso de diy e tingimento dos tecidos), são mais propensos a gerar bolinhas no tecido, toque áspero e muitos deles pinicam. 

Poliéster: é um tecido que esquenta, puro plástico, a cada lavagem mais micro plásticos saem e vão parar nos oceanos, e infelizmente, por ser barato, é um dos maiores consumidos no mundo. 

Acrílico: uma alternativa sintética da lã e usado mais em roupas de inverno. A diferença entre os dois é que a lã é extremamente macia e não pinica. Já o acrílico é macio, mas dá uma pinicadas na pele durante o uso (além do impacto ambiental);

Poliamida/náilon: Geralmente, a mais molinha entre os tecidos sintéticos, mas não se compara com um algodão, por exemplo. Leve, durável, traz mobilidade e muito usado nas roupas esportivas devido a isso;

Elastano: Fibra que estica, usado muito em roupas de academia, pois consegue trazer mais conforto em roupas que precisam esticar mais;              

- Semissintéticos: São tecidos que a fonte de matéria prima é natural, mas a produção é artificial.

Pontos positivos: Não possuem cheiro tão forte, são tecidos mais delicados que os sintéticos e trazem um conforto maior.
Pontos negativos: Amassam bastante, mas menos que os 100% naturais;

Modal: macio e confortável;
Lyocel: é um tecido sustentável, tecidos mais tecnológicos;
Viscose: leve, mais delicada que um tecido sintético, porém não como um tecido 100% natural, fluida e muito similar a seda;

Como identificar a qualidade dos tecidos?

- O teste do toque é o mais importante! Sentir a maciez, o caimento do tecido. Um exemplo disso é o couro, pois ele é mais pesado, costuma ser mais grosso, as fibras são mais imperfeitos. Já o couro PU, as fibras (ou seja, o desenho natural do tecido) são mais perfeitas, pois o tecido é feito na máquina.
- Outra dica para saber a qualidade do tecido, no caso do algodão, é só virar a costura do avesso olhar as costuras (se a costura tiver mais "torta", é um péssimo indicativo de que não é 100% natural) ou se tiver algum fiozinho solto;
- Sempre olhe a etiqueta para ver qual o tipo de tecido feito naquela peça;
- O poliéster se você colocar contra luz e fazer um certo movimento, ele brilha, trazendo esse aspecto mais plastificado.

Tecidos para cada ocasião:

- Inverno e outono: Tecidos mais quentinhos e grossos, ex.: Lã, veludo, cashmere;
- Verão: Evitar principalmente, poliéster. Indicados são algodão, linho, seda e malhas confortáveis;

O que fazer para minimizar esse impacto?


- Controlar a quantidade de peças que você compra; 
- Doar ou vender roupas que não usa mais;
- Reciclar roupas e customizar;
- Em eventos e ocasiões especiais, alugar roupas por um determinado tempo. Assim você tem um custo menor, usa uma peça nova e depois outras pessoas também irão poder usar aquela peça (é claro que nem sempre funciona porque nem todo mundo tem bom senso e educação de cuidar da peça ou devolver como pegou);
- Trocar roupas que você não usa mais com pessoas conhecidas;
- Garimpar em brechós;
- Apoiar também o trabalho de costureiras e alfaiates que fazem roupas únicas sob medida;
- Escolher roupas não sintéticas;
- Escolher roupas de algodão orgânico;
- Escolher roupas de poliéster reciclado que não sejam misturadas a fibras naturais;
- Fazer suas próprias roupas com tecidos mais naturais;

Conclusão:


Bom Bats, sei que é muita coisa e muita informação, mas quis trazer esse debate e todo esse apanhado para que vocês entendam que quando a gente fala de consumismo, não se trata só do departamento que você compra ou somente do quanto você compra, mas pensando em todo impacto ambiental que aquilo pode causar! 
É muito mais sério do que a gente imagina e se podermos controlar nosso consumo, podemos criar um impacto positivo no futuro e ajudar a reduzir grande parte dos malefícios que o modismo traz no dia a dia para nós mesmos e para o planeta (isso porque nem entrei no âmbito social e psicológico que esse efeito tem em nós). 
Sempre reflita antes de comprar qualquer coisa e pense aquilo é realmente o que você precisa e se tem alguma peça no seu guarda-roupa que pode ser reutilizado, customizado e reaproveitado. 
Espero que tenham entendido o contexto de tudo isso e entendam que o consumismo vai muito além da blusinha gótica que você compra na Shein! Um beijo e uma mordida, até a próxima...

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